As serpentes são protagonistas de vários mitos em toda a história da humanidade. Muitas vezes representando dualidades: remédio e veneno, vida e morte, constrição e liberdade. Elas também são ligadas à lua, pelo seu poder de transformação e renovação, observados nas suas fases e nas trocas de pele das cobras. Também são relacionadas ao elemento da água, sendo consideradas as grandes criadoras de rios, vales e a topologia do mundo. Serpentes emplumadas voam para os céus, engolem a lua durante eclipses, transformam-se em mulheres sedutoras à noite, dividem os mares na mitologia nórdica.
Para mim, as serpentes sempre foram objeto de extremo fascínio. Suas formas ondulantes, seus movimentos hipnóticos que parecem ser meticulosamente ensaiados, a linha da coluna marcada que acrescenta mais um elemento volumétrico nessas formas tão perfeitas. E nesses tempos pandêmicos, a figura da serpente tem aparecido para mim como símbolo de cura e renovação, e de uma força essencialmente feminina e extremamente poderosa. As serpentes vagueiam das profundezas da terra aos mais altos céus, podem curar e podem matar, e para mim representam esse momento pivotal da existência humana.
Minha busca nesse período me levou a fazer inúmeros desenhos, dezenas de modelos, testes e protótipos nos mais variados meios - argilas, ceras, metais, esculturas 3D. O processo é lento, trabalhoso, e constante. A produção das peças leva tempo - como tem que ser, como toda boa obra que tem o seu tempo de gestação.
Duas foram as fontes de inspiração dessas peças: as serpentes da exposição Biophilia, do artista Christopher Marley; e as músicas do grupo Dead Can Dance, que descobri sem querer justamente nesse período. A música "The Snake and the Moon", brilhantemente adicionada a esse vídeo com um corte do filme "Samsara", empresta o nome à coleção e embalou hora após hora de trabalho solitário no meu pequeno atelier em casa.
É com muito prazer que apresento minha primeira coleção autoral, "The Snake and The Moon". Espero que gostem.
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